segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Sentimentos Puros – de Carlos Leite Ribeiro

Desde tempos imemoriais é muito usado o termo “Sentimentos Puros”.
De todas as classes sociais, quando era para conquistar uma mulher (e também homens), a abordagem era quase sempre a mesma: ”Sentimentos Puros”.
Focando só os religiosos (de todas as religiões), depois de saberem (ou de terem confessar) a mulher desejada, começava o trabalho de a convencer que ela tinha males que para os curar, teriam de fazer certos “tratamentos”; curavam tudo desde insónias, mal-estar, angústia, dores de barriga, dores de dentes e até unhas encravadas, etc. Ou então invocavam os demónios ou os fiéis defuntos, que lhes estavam a “dar cabo da vida”. Depois de saberem a vida de “vítima” tudo valia para abalar seu cérebro. Quando devia ter terminado o tal “tratamento”, o “oficioso”, começava a invocar a bronca para a família e em casos para o próprio marido. Também houve casos em que o “oficiante”, obrigava a “vítima” a compartilhar com outro amigo – e esta nunca mais podia sair do círculo vicioso. As “vítimas” sempre foram consideradas de “gentinha” assim como quem as acompanhava, fosse plebeu, fidalgo ou nobre, os “espertos” tratavam logo de os afastar do seu caminho. Os charlatães também procediam da mesma forma para a “gentinha”, que nesse tempo era prática corrente. Houve “vítimas” (e até familiares) que se suicidaram para fugir ao que então chamavam de “grande vergonha”. Funcionava como uma máfia dos tempos modernos.
Não se sabe quando começaram os “Sentimentos Puros”, se foi antes ou depois do Dr. Endovélico, Deus da Medicina na Idade do Ferro e muito venerado na Península Ibérica. O certo é que Eça de Queirós quando escreveu “O Crime do Padre Amaro”, trama que dizem real passado aqui perto da cidade de Leiria, já teria conhecimento dos “Sentimentos Puros”, embora que quando a Inquisição chegou a Portugal em 1536, no reinado de D. João III – embora já D. Manuel I a tivesse pedido em 1531. Mas como ia a dizer, quando o Santo Ofício chegou a Portugal, encontrou o termo “Sentimentos Puros”, que dificultava os agentes inquisidores de poderem punir charlatães e outros, a torto e a direito. Mas “Sentimentos Puros” pela sua pureza não podiam ser punidos. Assim decidiram que os “Sentimentos Puros” passassem a ser considerados “Pecados Originais”, e assim, fizeram muitos churrascos mesmo sem espeto.
Relato (um dos muitos) de uma sentença à morte de todos os intervenientes (?) num processo julgado pelo tribunal do Santo Ofício: "(...) aproveitavam-se das fiéis emocionalmente frágeis que os procuravam à procura de amparo espiritual. Em alguns casos, para abençoar a mulheres, eles passavam óleo de unção no corpo delas, e o líquido acabava sendo usado para prática sexual. Confessaram que tiveram relações sexuais com "entidades desconhecidas" várias vezes porque foram ’hipnotizadas’ pelo óleo santo durante as orações (...)".
Já no tempo do nosso primeiro rei e muito amado D. Afonso Henriques, Os "Sentimentos Puros" já eram praticados, como nos contam os antigos livros de linhagens do século XlV são as principais fontes de descrição dos factos ocorridos nos Primórdios da Nacionalidade, em que se relatam episódios bastante pitorescos. Um deles acontece nos tempos de Afonso Vll de Leão, em que o conde Mem Soares andava desavindo com um cunhado pela posse da vila de Novelas. O rei nomeou Mem Soares adiantado-mor à do mesmo na região de Portugal. Aproveitando-se desta autoridade foi a Novelas e, enquanto o cunhado dormia na companhia de mais sete fidalgos, arrancou-lhe os olhos. Mais tarde, um cavaleiro vassalo dos um dos condes cegos acabaria por matar Mem Soares. Muitos anos depois, sendo D. Afonso Henriques já rei de Portugal, foi visitar o conde D. Gonçalo de Sousa à sua quinta de Ulhão. Enquanto o anfitrião preparava o jantar, o rei Conquistador, fazia amor com a condessa.O marido voltou com cara de poucos amigos mas limitou-se a dizer: “Levantai-vos que a comida já está pronta”. Enquanto comiam o conde mandou tosquiar a mulher e devolveu-a aos pais montada numa azémola (burra). D. Afonso Henriques não escondeu a sua reprovação e dirigindo-se para o conde, afirmou: “D. Gonçalo por menos que isto, um adiantado de meu avô cegou sete condes !”.Retorquiu o conde: “Cegou-os a torto e morreu por isso”.
Para não prolongar e desesperar os leitores, nem vou falar dos amores de D. Dinis, pois são demais conhecidos os seus “Pecados Originais”, mas que teve a sorte de ter como esposa a Rainha Santa Isabel.
D. João V, grande apreciador do "Pecado Original", oferecia os seus "Sentimentos Puros" pela Corte e Conventos. Nestes, os tais sentimentos, também eram "santos". Certo dia, a rainha confessou ao seu capelão que o rei se "esquecia muito dela durante a noite". Assim que encontro o rei, o capelão transmitiu-lhe o que a rainha lhe tinha confessado. O rei muito furioso deu ordem à cozinha para servirem só galinha ao capelão. Passado algum tempo, o capelão voltou a encontrar o rei e queixou-se que só lhe davam a comer galinha. D. João V sorriu e respondeu-lhe: "Tem razão capelão, vou já dar ordem à cozinha para lhe servir outros pratos. Mas tome atenção: nem só galinha nem só rainha...".
No século XVII já estava instalada no Convento de Odivelas "a liberdade de costumes e a moral do prazer "."No tempo do rei D. João V este convento criou muito má fama, por causa dos escândalos das freiras com os fidalgos seus amantes e com o próprio rei, a quem chamavam de freirático ("Aliás dizia-se de D. João V que era tão religioso que todas as suas amantes eram freiras.") que era assíduo frequentador do convento.
Mas houve outras madres, abadessas e até noviças que fizeram do Convento um motivo constante de escândalo e um tema próprio de anedotas (piadas). Mas, em muitos casos foram na conversa dos "Sentimentos Puros".Entre os manuscritos da Biblioteca Nacional, conserva-se uma lista de 20 freiras condenadas (???) no reinado de D. João V por delitos amorosos, lista que serviu a Camilo Castelo Branco para o enredo do seu romance "A Caveira da Mártir". Freiras como D. Ana de Moura a quem D. Afonso VI "o rei seco" prometera fazer rainha, e outras, encarregaram-se de fazer do convento o seu ninho de alcova.

Mas o Brasil, de jeito maneira, nenhuma podia ficar de fora. Não vou falar da rainha D. Carlota Joaquina, pois esta, segundo consta, nunca quis nada com religiosos. Deu a mão (só ?) a alguns charlatães, no seus mais puros sentimentos que, segundo consta se transformavam-se em "Pecados Originais"Mas vamos lá a factos. Fonte: Equipe Revista de HistóriaNuma época em que se dizia que amantes de padres viravam mulas-sem-cabeça (01), não era a menor das injúrias ser chamado de “filho do padre”. No Brasil do século XIX, homens de grande prestígio na política e na literatura amargaram esse estigma. Um deles foi o ilustre romancista José de Alencar. Seu pai, o senador José Martiniano de Alencar, viveu amancebado com a prima Ana Josefina, com quem teve oito filhos. Sem fazer questão de esconder a família, exercia as ordens eclesiásticas, rezando missa e até mesmo baptizando os próprios rebentos. O abolicionista José do Patrocínio era filho de uma jovem quitandeira chamada Justina e do padre João Carlos Monteiro, que, além de ter fama de grande orador sacro, era pároco da capela imperial. Não reconheceu a paternidade, mas encaminhou o pequeno José para a sua fazenda, onde ele passou a infância como liberto. Diogo António Feijó, o político mais influente do período regencial de1831 a 1840, foi baptizado como “filho de pais incógnitos”, mas há suspeitas de que seu pai era o vigário Manuel da Cruz Lima. Feijó ordenou-se padre, mas manteve uma relação tensa com a Igreja, chegando a fazer uma campanha contra o celibato. O engenheiro Teodoro Fernandes Sampaio, considerado um dos maiores engenheiros do século XIX, era filho de uma escrava com o sacerdote Manuel Fernandes Sampaio, que, além de lhe comprar a alforria, cuidou para que o filho tivesse uma boa educação.
(01): A Lenda da "Mula Sem Cabeça" (crendice popular): "Diz a lenda que mulheres que saem com padres viram mula-sem-cabeça na noite de quinta para sexta-feira. Ela sai galopando por aí, assombrando os pobres seres que cruzam seu caminho. Lança fogo pelas narinas e pela boca. Suas patas são de ferro, por isso ela pode galopar à vontade sem gastar os cascos. Como se não bastasse, fica relinchando a noite inteira e não deixa ninguém dormir. Para acabar o feitiço, alguém tem de ter a coragem de ir até ela e tirar o freio de ferro que ela leva nos dentes (dizem que ela não tem cabeça, mas tem boca, dentes e narinas). Haja coragem de enfrentar um bicho desses!". (Credo, Credo …).
Mas também existe "A Mulher do Padre", que são mulheres à caça de homem, normalmente em localidades onde existem menos homens do que mulheres; e um dos homens é um imaginem é Padre, ou seja, ele não pode casar, é casto, ele é etc. Então, conforme as mulheres vão chegando procuram o seu par. A última mulher que chegar só encontrará o Padre disponível, isto é, ela ficará sem par, uma vez que o Padre não pode casar, nem eventualmente, relacionar-se sexualmente. Mas... com o consentimento de ambos, pode surgir inesperadamente, "Sentimentos Puros" e acabar até, quem sabe, em "Pecado Original".
Você conhece esta anedota (piada) ?
Certo dia, chegou um padre novato a uma pequena localidade, onde o padre antigo havia combinado com as mulheres para dizerem que "escorregaram" ao invés de dizer que haviam "traído os seus maridos".
Na primeira vez em que as mulheres foram confessar com o padre novato, várias mulheres disseram ao padre que haviam escorregado na calçada. Como era de esperar o padre ficou indignado com estas escorregadelas, foi protestar junto ao Presidente da Câmara Municipal:
- "O senhor presidente, precisa mandar consertar as calçadas desta cidade, pois, as pobres e coitadas mulheres vivem escorregando, em tão má calçada.
O presidente, começou a rir, o que enfureceu o padre novo com completou o seu protesto:
- "O senhor presidentes está a rir-se? … Pois saiba que a sua mulher escorregou hoje três vezes!"

Vamos a outro tipo de factos:
Todos decerto que ouviram falar de Rasputine - certo?Rasputine, foi um místico russo, que nasceu dia 23 de Janeiro de 1864 em Pokrovskoie, Tobolsk e morreu no dia 16 de Dezembro de 1916, aos 52 anos em Petrogrado, actual São Petersburgo. Foi uma figura influente no final do período Czarista da Rússia. Por volta de 1905, a sua já conhecida reputação de místico misturou-se no círculo restrito da Corte Imperial Russa, onde se consta que chegou mesmo a salvar Alexis, o filho do Czar, de hemofilia. Perante este acontecimento, a Czarina Alexandra Fedorovna começou a dedicar-lhe uma atenção cega e uma confiança desmedida nele, denominando-o mesmo de "Mensageiro de Deus" (...?...). Com esta protecção, rapidamente Rasputine, influenciando ocultamente a Corte e principalmente a Família Imperial Russa, colocou homens como ele no topo da hierarquia da poderosa Igreja Nacional Russa.Todavia, o seu comportamento dissoluto, licencioso e devasso, com muitas orgias, envolvimento com mulheres da alta sociedade, alegadamente para as tratar de qualquer doença ou afastá-las de influência demónica ou de defuntos que as incomodavam, dará azo a várias denúncias por parte de políticos e nobres, atentos à sua trajectória poluta, entre os quais se destacam Stolypine e Kokovtsov. O Czar Nicolau II afasta então Rasputine, mas a Czarina Alexandra mantém a sua confiança absoluta no decadente monge que sempre clamou que agia por "Sentimentos Puros.
É conhecido hoje mundialmente por ter um pénis de 27cm, guardado até hoje dentro de um frasco em vidro no Museu Erótico Russo.

11 comentários:

  1. "Sentimentos Puros", "Pecados Originais", tudo coisa do passado.
    Hoje essa mentalidade desapareceu em defesa da "liberdade" de expressão, seja ela escrita, oral ou outra que se possa subentender.

    Gostei Carlos e Parabéns pelo seu Blog. Agora é só continuar.
    Um abraço
    Natália Vale

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  2. Parabéns Prof., conseguiu rs*
    Continue.
    Abraços
    Nelim Monti

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  3. Parabéns! Nada custa... O que dá é muito trabalho e nada se faz sem trabalho... Acho que as tuas pesquisas são mais dificéis do que fazer um Blog... Ai que mentiroso... Digo "Do que fazer um filho" risos! Abraço - Pinhal Dias - Amora - Portugal

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  4. Ficou muito bom. Além do texto, é óbvio, o aspecto visual ficou bem interessante... vou verificar como faço para melhorar o meu... abraço!!

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  5. Olá querido amigo Carlinhos!
    Ficou ótimo seu Blog!
    Sua crônica é muito boa e agora é só continuar...
    Parabéns pela proeza!
    Beijinhos mil!!!
    Ligi@Tomarchio®

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  6. Prezado Carlos,

    Benvindo ao clube dos bloguistas.

    Deve ter sido por algum destes conventos que aconteceu uma história que minha avó contava. Dizem que uma vez um marido traído matou o vigário da vila num beco escuro que dava para o muro de um convento. Irado, puxou de uma adaga, cortou o objeto fálico do padre e jogou por sobre o muro do convento.
    Do lado de dentro, a madre superiora e suas noviças faziam sua caminhada orante quando avistaram o "instrumento".
    Para espanto de todas a madre superiora exclamou horrorizada ao deparar-se com o mesmo:
    Ai, minhas filhas! Mataram o Padre Jacó!

    Pois é isso!!!

    Que Deus te abençoe,

    Grande Abraço,

    Caminha

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  7. Carlos, parabéns pelo blog, que está lindo, e pela crônica.
    Agora é só seguir em frente ;-)

    Abraços

    Márcia

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  8. Parabéns, Carlos!
    Bem-vindo à blogosfera!

    Abç!
    Tchello d'Barros
    Maceió - AL - Brasil

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  9. Parabéns,prof.Carlos. Em primenro lugar,pelo sucesso em ter conseguido fazer o seu Blog. Eu mesmo já tenho tentado várias vezes mas nunca consegui fazer um. Em segundo lugar, pela sua "cronicazinha", imagino como seria "cronicazona"! Mas adorei a sua crônica, aprendi muito a respeito dos "Sentimentos Puros" e da época em que padres e reis cometiam seus "pecados originais" de forma heroicamente fantástica e que depois viraram lendas.
    Agradeço imensamente.
    Grande abraço,
    Ari Santos de Campos

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  10. Surpresa... encontrar aqui o Prof. Leite Ribeiro, meu prezado amigo, que nem contou pra mim que tinha um Blog... quer dizer, um princípio de Blog... Cadê o resto, amigo? Queremos mais das suas inúmeras e valiosas pesquisas; contos; crónicas; peças de teatro; etc. Não vale mostrar-nos apenas um rebuçado da sua "magnífica fábrica de doces".
    Parabéns pela "amostra"... Ficamos esperando mais...
    Grande abraço da amiga e conterrânea desta maravilhosa cidade de Lisboa.
    Carmo Vasconcelos (Carminho)

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  11. Não sei como modificar definições e modificar o e.mail que, presentemente é autoreseamigoscen@gmail.com e adicionar mais trabalhos

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